Sabias que os rituais nos ajudam a ter um melhor desempenho? Neste artigo vou mostrar-te como podes mudar um comportamento usando rituais em vez de rotinas.
Quando os meus clientes me questionam se, de facto, acredito que podemos mudar comportamentos. A resposta é: Claro que sim!
Mudar um comportamento é difícil. Muitas vezes, a sensação é de que estamos a lutar contra a nossa própria natureza. No entanto, além de podermos mudar os nossos comportamentos é possível, sim, fazê-lo de forma sustentável. É isto que todos pretendemos, certo?
Quando decidimos mudar um comportamento passamos, normalmente, a tentar introduzir novas rotinas (que muitas vezes, nunca o chegam a ser…) no nosso dia-a-dia, fazendo-o de uma forma forçada e mecânica… quase como se fosse uma obrigação!
Que levante o dedo quem nunca sentiu frustração após perceber que resoluções tais como fazer exercício físico com regularidade, alimentar-se melhor, beber mais água, deitar-se mais cedo, ter mais organização e outras coisas afins, vão sendo proteladas semana após semana.
O pior é que, tantas e tantas vezes, sabemos exatamente o que necessitamos de fazer. Colocamos o lembrete no telemóvel e até comprámos aquelas sapatilhas perfeitas para ir treinar porque (achamos nós) isso fará toda a diferença. No entanto, isso não é suficiente!

Para que exista uma mudança sustentável e consistente temos, antes de mais, de acreditar na razão pela qual estamos a mudar. Esse é, sem dúvida, o ponto de partida.
Para mudarmos comportamentos de forma sustentável precisamos de um propósito consciente que nos motive a fazer o que é necessário e que, muitas vezes, se resume a realizarmos tarefas repetidamente.
Quantas vezes resistimos a fazer o que é necessário, simplesmente, porque não nos surge naturalmente?
É por isso que é essencial distinguirmos entre rotinas e rituais.
QUAL A DIFERENÇA ENTRE ROTINAS, HÁBITOS E RITUAIS?
Tanto as rotinas como os rituais se definam como uma sequência repetida de comportamentos. Ambos auxiliam no desenvolvimento de uma característica fundamental para a mudança de comportamentos – a consistência. No entanto, a rotina é uma abordagem orientada para processo, enquanto o ritual é uma abordagem orientada para propósito.
Por outro lado, muitas pessoas confundem rituais com hábitos. Quando falamos sobre o primeiro, às vezes queremos dizer o último – e vice-versa. Um exemplo emblemático de como misturamos esses termos é a conversa sobre rotinas matinais, que podem envolver tanto rituais como hábitos.
Mas da perspetiva da psicologia comportamental, os 2 conceitos têm diferenças. Nick Hobson, que estuda a psicologia e a neurociência do ritual há mais de uma década, diz que os rituais geralmente são mais eficazes na regulação das emoções do que dos hábitos.
Assim:
1. Hábitos são comportamentos consistentes que servem a propósitos instrumentais.
Geralmente não têm um significado simbólico. Quando repetidos por tempo suficiente, eles criam uma mudança orgânica nas nossas vidas.
2. Rituais também são comportamentos repetitivos, mas muito mais rígidos na sua estrutura do que os hábitos.
Normalmente, eles consistem em sequências particulares de ações que têm um significado simbólico – mas não necessariamente um propósito instrumental.
Os rituais podem mudar os nossos estados emocionais e de desempenho instantaneamente.
Nick Hobson
Para entenderes como o ritual difere de outros comportamentos, considera o seguinte exemplo de 2 pessoas enquanto tomam banho:
– A pessoa A trata o momento de tomar banho sempre como uma tarefa que serve a um propósito prático: limpar o seu corpo. Não dá atenção especial às ações consecutivas envolvidas no banho, nem lhes atribui qualquer significado simbólico. Nesse caso, tomar banho é um hábito ou rotina.
– A pessoa B tem, semanalmente, um momento em que o ato de tomar banho é um verdadeiro ritual de autocuidado. O objetivo principal não é apenas limpar o corpo; é relaxar e cuidar de si. Para isso, ela segue uma ordem específica de atividades significativas: acender velas, colocar uma bebida quente ao lado da banheira, adicionar óleos essenciais à água e por aí em diante.
Portanto, quando o significado simbólico da atividade tem prioridade sobre o prático, estamos perante um ritual e não de um hábito ou rotina.

Na verdade, as rotinas procuram, maioritariamente, transformar os bons comportamentos em hábitos que, por sua vez, são padrões de comportamento adquiridos, seguidos regularmente, até se tornarem quase involuntários.
Portanto, as rotinas ajudam-nos fornecendo estrutura e direção mas não nos dão, propriamente, uma razão pela qual isso importa. Ou seja, as rotinas são automáticas e orientadas para “O quê?” e os rituais são intencionais e orientados para “Para quê?”.
Os hábitos tornam o ordinário invisível. Já os rituais tornam o ordinário extraordinário.
Fazem-no através de um truque muito antigo – contar histórias! Por sua vez, estas histórias ajudam a dar sentido ao nosso mundo.
Os rituais fornecem uma estrutura que nos permite conectar com as nossas crenças. Por se basearem em ideias nas quais acreditamos, os rituais motivam-nos a colocar essas mesmas ideias em ações repetidas. É assim que os comportamentos mudam – repetição após repetição!
OS RITUAIS COMO FERRAMENTA PARA A MELHORIA NO DESEMPENHO
Não é por mero acaso que o mundo do desporto está repleto de rituais. Há evidências científicas crescentes que demonstram que os rituais desempenham um papel crucial na regulação dos nossos comportamentos de desempenho.
Mas como é que isso acontece exatamente?
Um grupo de investigadores da Universidade de Toronto conduziu um estudo que pretendia levantar a hipótese de que os rituais nos ajudam a ter um melhor desempenho, controlando a nossa ansiedade e minimizando a sensibilidade do cérebro ao fracasso pessoal.
As descobertas são consistentes com a visão de longa data de que o ritual nos protege contra a incerteza e a ansiedade. De forma muito resumida, os rituais ajudam a melhorar o desempenho porque mobilizam estados motivacionais e reguladores, seja por intermédio da melhoria da concentração, seja pela criação de prontidão física ou pelo aumento da confiança.
Existem inúmeros exemplos desses rituais peculiares dos atletas. Mas isto não se limita apenas ao mundo desportivo profissional. Onde quer que a performance aconteça, um ritual será encontrado. Das forças armadas à medicina, aos negócios e à educação, está claro que os rituais são uma parte importante do nosso funcionamento diário, ajudando-nos a melhorar o nosso foco, a concentração e a atenção.
Vou partilhar contigo um exemplo pessoal: Quando estou a trabalhar tenho uma série de rituais que, inicialmente, nem percecionava como tal.
Em primeiro lugar, quando vou iniciar uma formação de equipa gosto sempre de alterar a sala onde vou trabalhar de uma forma particular. Assim, mesmo que todas as salas sejam diferentes o exercício de as ajustar quando chego, a forma como disponho os materiais e o “cenário” que preparo para cada grupo é uma forma de me “colocar em jogo”. Isso indica ao meu cérebro que nas próximas horas vai estar exclusivamente focado naquele grupo de pessoas e na interação com elas.
Em segundo lugar, antes de iniciar uma sessão de Coaching, além de preparar a sala, coloco sempre as minhas “seis cartolas imaginárias” dispostas na mesa à minha frente (quem já trabalhou ou trabalha comigo sabe bem do que falo…). Começou por fazer parte de uma sequência que me fazia sentido. No entanto, ao longo dos anos fui constatando que isso tem impacto tanto em mim, como no Coachee.
O RITUAL COMO FERRAMENTA PARA ALTERAR A TUA AUTOIMAGEM
Existe uma relação direta entre a nossa autoimagem e os comportamentos e hábitos que vamos tendo no nosso dia-a-dia. Isto acontece porque a nossa identidade não é fixa e sim altamente fluída e muito influenciada pelos nossos comportamentos.
Assim, muitas das pessoas que procuram trabalhar na sua Organização Pessoal percecionam-se a si mesmas como sendo desorganizadas, desarrumadas ou indisciplinadas.
Isso influencia os seus sentimentos, pensamentos e ações. Portanto, é essencial mudarmos a Visão que temos de nós mesmos para, de seguida, programarmos uma série de comportamentos que apoiem essa visão.
Por exemplo, é totalmente diferente dizer “Eu tenho de me organizar.” de “Quando eu termino ou começo a minha semana de trabalho planeando e organizando as tarefas pendentes eu sou mais organizada, o que me faz sentir serena e focada.”
O mesmo se pode aplicar o todos os outros comportamentos. Vamos pensar no caso concreto da Assertividade. Nenhum de nós é 100% assertivo em todos os momentos e com todas as pessoas. No entanto, eu posso pensar que “Eu tenho de ser assertiva” ou que “Quando eu sou clara na forma como comunico, partilhando a minha intenção e respeitando, simultaneamente, a intenção do outro eu sou mais assertiva, o que me faz sentir segura e respeitada”.

O nosso diálogo interno é essencial para a mudança de comportamento e existe uma enorme diferença entre iniciar uma frase com “Eu tenho de…” ou “Eu sou…”.
Vou dar-te outro exemplo: imagina que eu decido que devo deixar de comer carne, é totalmente diferente dizer “Eu tenho de parar de comer carne.” ou “Eu sou vegetariana”.
A expressão “Eu sou…” remete para a nossa identidade que, por sua vez, é influenciada pela nossa autoimagem. Quando eu mudo a minha autoimagem e, portanto, ajusto a minha identidade para a Visão do que eu pretendo ser, torna-se mais simples definir os meus novos comportamentos.
Dizer “Eu tenho de ir ao ginásio” é distinto de dizer “Eu sou uma pessoa atlética”, certo?
COMO PROJETAR RITUAIS PESSOAIS?
Os rituais estão presentes na vida humana há muito tempo. Os antropólogos acreditam que os primeiros proto rituais surgiram antes de qualquer forma de crença religiosa. Isso está de acordo com a visão psicológica de que o ritual humano é uma resposta evolutiva à incerteza. Ele adiciona estrutura e estabilidade a um mundo imprevisível.
Basicamente, os rituais pessoais são uma espécie de coreografia intencional das nossas ações com as nossas crenças.
Podemos seguir 3 etapas:
1. Definir o propósito do ritual em que acreditamos,
2. Definir os comportamentos (ritos) que podem cultivar esse propósito e por que razão eles são importantes,
3. Definir as especificidades desses comportamentos (Quando? Onde? O quê? Para quê?…).
No fundo, o ritual fornece uma forma de colocar a consciência em ação. Vou partilhar, novamente, o meu exemplo pessoal:
O RITUAL DE INÍCIO DE SEMANA
Quando? 2ª feira de manhã (07h00-08h00) Para quê? Para iniciar cada nova semana de forma mais organizada, focada e serena.
Rito 1: Faço uma caminhada junto ao mar. Para quê? Para criar espaço para os novos desafios da semana que está a iniciar. Caminhar e estar junto ao mar ajuda-me a “limpar a minha mente”, Este rito funciona como um recomeço.
Rito 2: Bullet Journal – Reflexão sobre a minha nova semana. Para quê? Para organizar a minha mente e esclarecer meus pensamentos. Existe uma enorme probabilidade de que, a essa altura do dia, muitos pensamentos ou ideias tenham “borbulhado”. Até porque enquanto caminho, habitualmente, muitas ideias me surgem. Aproveito esse tempo para anotá-los e definir as minhas prioridades para a semana.
Percebi ao longo do tempo que caminhar junto do mar ou no meio da natureza me ajuda a fazer “reset” e que escrever sobre como irá ser a minha semana me ajuda a focar, sentir-me mais organizada e serena. Tenho quase sempre semanas intensas e desafiantes, que exigem energia (aos vários níveis) e foco.
Para mim, é suficiente fazer este ritual uma vez por semana para ter um impacto positivo nos restantes dias. Há, obviamente, outros rituais que coloco em prática diariamente. Este é apenas um exemplo para te ajudar a visualizar.
Há quem opte por fazê-lo no final da semana, preparando a semana seguinte. Mas, comigo, funciona melhor ao início de semana, até porque à 6ª feira prefiro ter outros rituais que me permitam começar a “desligar” para mudar de registo.
Portanto, é essencial que definas os teus próprios rituais, em vez de replicares os de terceiros. Devem fazer sentido para ti e estarem alinhados com o teu próposito!
Qual é a tua Visão sobre como tu queres ser? Quais são os comportamentos que apoiam essa tua Visão? Quando, como e para quê vais começar a colocá-los em prática? Queres mudar comportamentos de forma sustentável? Começa por definir o teu (real) motivo para que isso aconteça.
Em jeito de conclusão, não queremos mudar a forma como nos comportamos e sim a forma como nos sentimos. Mudamos o nosso comportamento para nos sentimos tranquilos, fortes, enérgicos, saudáveis, reconhecidos e amados.
Acreditas que te posso ajudar nessa jornada? Entra em contacto comigo e talvez possamos desenhar os teus novos rituais ou até trazer um novo significado aos que já tens.
Decidi gravar este conteúdo igualmente em áudio. Assim, podes aceder à informação da forma que mais te convier. Escuta o episódio 6 do Podcast Mind Speeches













