O termo multitasking refere-se, hoje em dia, à capacidade de realizar diferentes tarefas ao mesmo tempo ou de mudar de forma rápida e constante entre diferentes atividades. Com este artigo vou mostrar-te 4 perigos do multitasking para a tua produtividade!
Sabes aqueles momentos em que te sentas em frente ao teu computador porque tens 1 ou 2 horas para terminar uma tarefa urgente e, quando te apercebes, “gastaste todo o teu tempo disponível” a fazer tarefas e a “fechar assuntos” de que te vais lembrando como se fossem pop-ups… em vez de terminar a tarefa urgente?
Pois é, provavelmente já todos sentimos isso e a questão é bem mais profunda do que a tecnologia.

O termo multitasking foi utilizado originalmente pela IBM em 1965 quando anunciou a criação de um computador que tinha a capacidade de completar mais do que uma tarefa ao mesmo tempo.
Hoje em dia, é raro encontrar um empregador ou um candidato a emprego que não esteja focado na tão procurada habilidade de lidar com várias tarefas ao mesmo tempo.
Tendo em conta as exigências das nossas vidas atuais, somos todos (de uma forma ou de outra) colocados perante a necessidade de realizarmos várias tarefas com períodos de execução cada vez mais curtos, o que nos leva a procurar fazer mais do que uma coisa ao mesmo tempo.
Parece que, de repente, ser multitasking é um requisito para sermos produtivos!
Mas será que os humanos podem realmente realizar (de forma produtiva) várias tarefas ao mesmo tempo?
A ciência tem vindo a demonstrar de forma clara que perdemos a capacidade de execução quando realizamos mais do que uma tarefa ao mesmo tempo.
Viver constantemente em “modo de multitarefa” produz mudanças no cérebro que podem causar depressão, ansiedade e até diminuir a produtividade. Sim, isso mesmo, diminuir (em vez de aumentar) a produtividade!
Claro que os nossos cérebros conseguem realizar duas tarefas, se uma das tarefas não for cognitivamente exigente. Caminhar e mastigar, por exemplo, é bem possível porque mastigar não requer esforço cerebral. O problema surge quando se tenta fazer duas tarefas que sobrecarregam o cérebro, ao mesmo tempo.
Há algo que precisamos de desmitificar antes de avançarmos – a ideia de que “mais é sempre melhor”!
Herbert Simon (vencedor do prémio nobel de Ciências Económicas) traz-nos o importante conceito de Economia da Atenção alertando para o facto de que:
“Uma era rica em informação provoca a escassez do que ela consome. E o que ela consome é óbvio, é a atenção dos seus recetores. Eis porque a riqueza de informação gera pobreza de atenção”.
A palavra produtividade já faz parte do vocabulário de todos nós. Queremos ser cada vez mais produtivos e, muitas vezes, associamos essa produtividade à capacidade de fazermos mais e mais tarefas, de fazermos várias tarefas em simultâneo e de prestarmos atenção a uma imensidão de informação que nos chega de todos os lados.
É verdade que a nossa capacidade de atenção determina o nível de competência com que realizamos uma tarefa. Portanto, existe, sim, uma conexão entre atenção e excelência!
O que nem sempre está claro é que os nossos cérebros estão desenhados para se focarem numa coisa de cada vez – e bombardeá-los com informação irá apenas abrandá-los. Isto acontece porque o cérebro humano não pode, verdadeiramente, dar atenção total a duas tarefas ao mesmo tempo. Em vez disso, ele alterna entre as tarefas, fazendo com que nenhuma delas receba a atenção que merece. Com cada troca, há uma perda de desempenho e de precisão.
A condução “distraída” é um exemplo perfeito. A grande maioria das pessoas concorda que enviar mensagens de texto e conduzir é perigoso. A maioria também diria que conduzir, enquanto fala ao telemóvel é arriscado. Embora a maioria dessas mesmas pessoas acredite que é capaz de fazer as duas coisas com sucesso!
A maioria dos condutores, assim como os legisladores, acredita que é perfeitamente seguro conduzir e falar ao telefone, desde que seja em modo “mãos livres”. Na verdade, estão enganados!
O problema de falar ao telefone e conduzir relaciona-se muito mais com o nosso cérebro do que com as nossas mãos! Conversar é cognitivamente exigente, assim como conduzir. Em vez de fazer as duas coisas adequadamente, os nossos cérebros continuam a mudar de uma tarefa para outra. Além de nenhuma das duas receber a nossa atenção total, há também uma lacuna conforme o cérebro muda de tarefa para tarefa.
4 PERIGOS DO MULTITASKING:
1. Aumenta a sensação de cansaço: a multitarefa não só causa lacunas no nosso pensamento, como também prejudica o nosso cérebro. Alternar entre as tarefas consome glicose oxigenada no cérebro, fazendo com que nos sintamos cansados muito mais rápido do que o normal.
2. Reduz a massa cinzenta dos nossos cérebros: vários estudos têm vindo a mostrar que as pessoas que realizam multitarefas, especialmente quando a tecnologia está envolvida, reduzem a massa cinzenta dos seus cérebros, especificamente em áreas associadas com o controlo cognitivo e com a regulação da motivação e da emoção (ou seja, torna-nos muito mais propensos a momentos de desregulação emocional e de descontrolo!).
3. Aumenta probabilidade de erro e de problemas de memória: quando “saltamos” de uma tarefa para outra ou realizamos tarefas simultaneamente, existe um custo energético e de produtividade. Os “viciados” em multitasking frequentemente se esquecem de detalhes e cometem 3 vezes mais erros do que fariam em apenas uma tarefa. Como estão a efetuar múltiplas tarefas ao mesmo tempo ou a realizar mudanças súbitas e consecutivas do seu foco de atenção, o cérebro torna-se incapaz de filtrar e hierarquizar a informação relevante.
4. Aumenta a frequência cardíaca e os níveis de cortisol (umas das hormonas associadas ao stress) no organismo. Sabias que as concentrações elevadas de cortisol produzidas por situações de stress intensas interferem na forma como decidimos, avaliamos o risco ou pensamos nas situações mais complexas? Além disso pode afetar a nossa rapidez de resposta e até o modo como interpretamos as expressões faciais de quem nos rodeia. Já pensaste no real impacto que isto tem na tua vida?
Vários estudos têm vindo a mostrar que as pessoas que realizam multitarefas trabalham mais rápido, mas produzem menos.
O QUE PODEMOS FAZER PARA LIDAR COM ISSO?
O cérebro é um órgão fascinante. Ele muda ao longo de nossa vida e podemos, sim, ter um impacto tremendo na forma como ele funciona. Podemos, sim, melhorar as nossas habilidades de gestão de tempo e de energia e mudar os padrões de pensamento que contribuem para o nosso desejo de realizar várias tarefas ao mesmo tempo.
O primeiro passo é aprendermos a gerir as distrações!
Viver a vida que ambicionamos requer não apenas fazer as coisas certas, mas também aprendermos a escolher o que não nos acrescenta ou o que não está alinhado com os nossos objetivos e com as nossas intenções.
Muitas vezes, alegamos que as distrações não dependem de nós, como o telemóvel que não pára de tocar ou os emails que teimam em entrar a toda velocidade, mas será que o problema realmente está na tecnologia?
Sabias que quando completamos uma tarefa pequena (como enviar um email, responder a uma mensagem de texto ou postar algo nas redes sociais) recebemos uma dose de dopamina, a hormona da recompensa? Claro que os nossos cérebros adoram essa dopamina e, portanto, acabamos por ser encorajados a saltar entre mini tarefas que nos oferecem gratificação instantânea.
Isto origina um ciclo de feedback perigoso que faz com que sintamos que estamos a concretizar imensa coisa quando, na realidade, nem estamos a fazer assim tanto (ou pelo menos nada que exija verdadeiramente pensamento crítico ou que esteja alinhado com os nossos objetivos).
Felizmente, podemos treinar o nosso cérebro para ser mais eficaz na forma como se foca em cada tarefa. Queres saber como? Lê o artigo “Como treinar o foco e ter uma vida mais equilibrada?”


