3 sistemas que afetam a tua motivação e o teu equilíbrio emocional

A motivação é um dos temas que mais interesse parece suscitar quando pensamos em desenvolvimento pessoal. As empresas querem saber como motivar os seus colaboradores e os colaboradores parecem, cada vez mais, focados em perceber como se podem manter motivados, sem perder o equilíbrio. Ao longo deste artigo vou partilhar 3 sistemas que regulam a tua motivação e que têm impacto sobre o teu equilíbrio emocional.

Vivemos numa realidade que nos pede ritmo constante e motivação “à prova de bala”. Mas será que podemos gerir e equilibrar a nossa motivação sem prejudicar o nosso equilíbrio e sem entrarmos num estado de completa exaustão?

Costumas sentir uma ansiedade indesejada em relação ao futuro? E em relação ao passado? Há situações do passado (muitas vezes, aparentemente, resolvidas) que te assombram de tal forma que mais parece que estão a acontecer, de novo, agora?

A evolução é uma força poderosa que continua a moldar e desenvolver os nossos corpos e os nossos cérebros. A mente humana é capaz de superar desafios extremamente complexos no mundo físico. No entanto, o nosso cérebro é também capaz de criar emoções intensamente negativas e reativas que muitas vezes não sabemos como gerir.

É essencial aprendermos estratégias para acalmar os nossos sistemas de Ameaça e de Impulso e gerar uma sensação de calma, conforto, paz e resiliência, para que possamos estar mais conscientes e escolher como responder a emoções desafiadoras (como a raiva, o medo, a dor, a deceção e a tristeza) e experiências internas difíceis (tais como memórias dolorosas, previsões negativas, imagens baseadas na ansiedade ou julgamentos severos e autocrítica).

Isso significa compreender um pouco melhor como nossos sistemas motivacionais se misturam com as nossas experiências de vida pessoais para moldar a nossa perceção do mundo, de nós mesmos e dos outros.

Um dos primeiros aspetos que é necessário entendermos é que os nossos cérebros respondem às ameaças externas e internas exatamente da mesma forma.

OS 3 SISTEMAS DE REGULAÇÃO DA MOTIVAÇÃO:

O Professor Paul Gilbert propôs um modelo que nos traz 3 sistemas motivacionais que podem ser vistos como 3 tipos de mindset diferentes:

1. O sistema de ameaças (deteção e proteção)

O nosso sistema de ameaças é muito poderoso: envolve hormonas associadas ao stress como o cortisol e a adrenalina e pode ativar explosões de excitação poderosamente motivadoras que nos alertam sobre ameaças e nos motivam a agir.

O sistema de ameaças responde a estímulos externos (tais como pressão, deadlines e outros fatores que afetam o nosso bem-estar) e também a estímulos internos (por exemplo, imagens, emoções, pensamentos, memórias, julgamentos, previsões…). Ele faz isso criando sentimentos motivadores de raiva, ansiedade, medo ou aversão em resposta a estímulos potencialmente ameaçadores.  

O Sistema de Ameaças foi ajustado pela evolução ao longo de milhares de anos (aqueles com melhores Sistemas de Ameaças tinham maior probabilidade de sobreviver o suficiente para transmitir genes). Isso significa que os nossos cérebros evoluíram para detetar ameaças muito rapidamente e mobilizar uma resposta (desviando a nossa energia e recursos de atenção para eliminar a ameaça). Tudo isto acontece muito rapidamente para garantir a nossa sobrevivência. Basicamente, o Sistema de Ameaças foi moldado pela evolução para nos manter seguros. Ele opera com base no princípio de “melhor prevenir do que remediar” – e é reativo porque o seu grande objetivo é proteger-nos procurando e identificando todo o tipo de ameaças.

Sabemos, hoje, que as informações negativas capturam a nossa atenção, pensamento e memória muito mais rapidamente do que as informações positivas.

Por exemplo, geralmente sentimos o desconforto de sermos repreendidos com muito mais intensidade do que sentimos a alegria de sermos elogiados. (Escuta o Episódio 4 do Podcast Mind Speeches para saberes “Como tornar o feedback menos ameaçador?”).

As emoções baseadas em ameaças (medo, raiva, repulsa) organizam o nosso cérebro e corpos de formas poderosas que nos motivam a protegermo-nos e a eliminar rapidamente a fonte da ameaça para ficarmos seguros! Embora isso possa ter sido muito útil quando tivemos que lutar contra um leão no meio da selva, nos tempos modernos, é terrivelmente inútil quando nos deparamos com:

– Ter emoções ou memórias que preferiríamos não ter (por exemplo, tentar esquecer uma situação dolorosa do passado),

– Quando estamos ansiosos para tentar resolver problemas futuros,

– Quando estamos a tentar estar presentes e nos conectarmos com outras pessoas e a sensação de ameaça “não nos sai da cabeça”,

– Ou quando estamos simplesmente deitados na cama a tentar adormecer e os nossos cérebros não “desligam” de todas as obrigações e preocupações!

Portanto, quando equilibrado com os outros dois sistemas, o Sistema de Ameaças alerta-nos sobre potenciais ameaças e obstáculos e ajuda-nos a movermo-nos nas direções desejadas. No entanto, por ser um dos sistemas mais poderosos do cérebro é fácil para este sistema consumir mais do que sua quota justa de energia mental e física.

Devido à capacidade do nosso cérebro de imaginar e ruminar, e porque o sistema de Ameaça responde também (como já vimos) a estímulos internos é possível manter este sistema a funcionar mesmo na ausência de qualquer ameaça real.

Isso significa que, se passarmos muito tempo a viver desnecessariamente em estado de “ameaça”, os nossos mundos serão considerados potencialmente inseguros. Isso pode fazer com que o mundo pareça um lugar desnecessariamente gerador de ansiedade, exaustivo ou opressor, causando stress tóxico e uma série de problemas de saúde.

2. O sistema de impulso (aquisição e realização de recursos)

O Sistema de Impulso é um sistema motivacional que também tem raízes na nossa evolução, na medida em que nos impulsiona para as coisas que queremos ou precisamos (ou, pelo menos, coisas que acreditamos precisar) para prosperar.

Este sistema alerta-nos sobre oportunidades para concretizarmos objetivos e protegermos recursos, e ajuda-nos a focar e a manter a nossa atenção nessas atividades. Tal como o Sistema de Ameaças, este sistema pode ser fortemente motivador e pode restringir a nossa atenção para focar em tudo o que estamos a perseguir.

No mundo animal o Impulso é assim: a busca para garantir comida, abrigo, conforto e território (por exemplo, um esquilo a acumular nozes para o inverno, os cães a lutarem por um osso…). Para os humanos que vivem nas sociedades modernas, o Impulso é assim: a busca por posição e posição social, competitividade, realização e status.

Ou seja, para nós humanos, o sistema de Impulso é, muitas vezes, sobre ​​“fazer as coisas” (fazer mais, ser mais, ganhar mais e ter mais) e alcançar uma posição socialmente elevada.

Quando em equilíbrio com os outros dois sistemas, o Sistema de Impulso pode ajudar a nos mantermos ativos na busca por objetivos importantes para a nossa vida.

No extremo, pode conduzir a comportamentos viciantes e compulsivos, pode conduzir-nos a procurar realizações de maneira implacável e rígida (causando problemas de perfeccionismo, controlo, stress, esgotamento e depressão).

Este sistema é altamente influenciado pela substância química cerebral Dopamina. A dopamina é uma “substância química de recompensa” e experimentamos uma elevada dose de dopamina sempre que alcançamos algo a que nos propusemos.

Vou dar-te um exemplo: imagina que tentas “encestar” um papel no caixote do lixo e não consegues à primeira tentativa. Geralmente, resolveríamos a questão aproximando-nos do caixote, depositando o papel e seguindo com as nossas vidas. Na verdade, o impulso para atingir um objetivo (sobretudo se já falhámos) faz-nos, muitas vezes, continuar a tentar até (finalmente) acertarmos!

Analisando a situação de forma racional estamos só a gastar energia com algo que não é relevante para a nossa vida, mas, uma vez definido o alvo e o objetivo temos dificuldade em desistir porque quando conseguimos é libertada uma dose de dopamina, fazendo-nos sentir bem e com vitalidade. É este mesmo mecanismo que, tantas vezes, nos impede de sabermos parar, de “desligar” e de relaxar. Os nossos cérebros e os nossos corpos estão, simplesmente, demasiado entusiasmados e ativos para sermos capazes de abrandar!

3. O sistema calmante (segurança, cuidado, afeto)

Tal como o Sistema de Ameaça e de Impulso, estamos “equipados” com o Sistema de Acalmar. Em termos evolutivos, o Sistema Calmante é o nosso Sistema de Cuidar que é comum a todos os Mamíferos. Frequentemente, o Sistema Calmante opera quando não há ameaças contra as quais nos tenhamos que defender e nem objetivos que devam ser perseguidos. Este sistema utiliza substâncias neuro químicas benéficas, como a oxitocina (a hormona do afeto) e endorfinas.

Ao contrário dos Sistemas de Ameaça e Impulso que nos ativam, o Sistema Calmante pode nos desativar e relaxar. O Sistema Calmante está associado a estados de paz – sensação de segurança, calma e satisfação e permite que nos acalmemos a nós mesmos… e também aos outros. Está ligado a experiências de dar / receber carinho, afeto, aceitação, gentileza, cordialidade, incentivo, apoio e afiliação e é ativado por todas as experiências que nos trazem sensação de bem-estar, tais como estar com as pessoas que amamos, fazer um hobbie que nos traga satisfação pessoal (sem necessidade de atingirmos objetivos), ler um bom livro ou dar uma caminhada junto ao mar ou no meio da natureza.

Muitas vezes, utilizamos excessivamente o sistema de Impulso com base na crença de que se formos mais tranquilos, simplesmente, estamos a perder ritmo e a “baixar a guarda”, desistindo dos nossos objetivos. Na verdade, isso pode conduzir-nos a estados de exaustão, desmotivação e baixa autoestima já que o Sistema de Impulso baseado em ameaças funciona apenas temporariamente…até falharmos! Quando falhamos a falha aciona inadvertidamente a sensação de ameaça por meio da autocrítica.

Todos acabaremos por falhar!

Equilibrar o Sistema de Impulso com o Sistema de Acalmar torna-nos mais resilientes e capazes de nos apoiarmos a nós mesmos (e aos outros) no momento da falha. Isso significa que vamos ser mais capazes de lidar com a deceção sem cair na autocrítica, no auto ataque ou na vergonha. Quando nos relacionamos connosco dessa forma deixamos de ser motivados pelo medo ou pelo Sistema de Ameaça, reforçamos a nossa autoestima e tornamo-nos cada vez mais tolerantes e resilientes, gerindo as adversidades com uma atitude mais positiva.

O Sistema Calmante é uma fonte de força, não uma vulnerabilidade!

É comum utilizarmos de forma excessiva os nossos Sistemas de Ameaça e de Impulso, que tornam os nossos mundos exaustivos. Assim, o objetivo é equilibrá-los proactivamente com atividades que nos tranquilizem.

O equilíbrio requer uma utilização consciente e adequada de cada um dos sistemas. Podemos, sim, mantermo-nos motivados e ativos, sem perder o nosso equilíbrio.

COMO MANTER O EQUILIBRO ENTRE OS 3 SISTEMAS?

Eu acredito no conceito de self assessment por isso decidi desenhar uma Roda da Motivação no meu Bullet Journal e, semanalmente, vou preenchendo os espaços dedicados a cada um dos Sistemas com os vários fatores internos e externos que considero que possam representar ameaças, impulsos ou acalmar-me e nutrir-me.

Desta forma, mantenho-me atenta e consciente sobre o que pode vir a acontecer ou está a acontecer e dou a mim mesma a possibilidade de equilibrar ameaças e impulsos com momentos de autocuidado que me tornem mais resiliente perante as adversidades e os desafios.

Para te inspirar partilho a minha Roda da Motivação do mês de Setembro!

Se tens interesse sobre o tema da Produtividade com Propósito talvez gostes do artigo “4 perigos do multitasking para a tua produtividade!”

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