A palavra assertividade já faz parte do vocabulário de quase todos nós. Neste artigo vou abordar 4 crenças que bloqueiam a assertividade.
Ao longo dos últimos anos um dos temas que mais tenho vindo a trabalhar é, sem dúvida, o da comunicação assertiva.
É bastante claro para mim que as empresas querem (mesmo muito) que os seus colaboradores sejam mais assertivos dando, inclusive, cada vez maior destaque a esta competência no momento de recrutar. Por outro lado, os colaboradores querem realmente perceber que são capazes de se expressar de forma assertiva.
Mas, será que realmente está claro o que nos impede de sermos mais assertivos?
Antes de avançarmos para as 4 crenças quero partilhar a definição de assertividade com a qual mais me identifico.
Ser assertivo é ser direto, honesto e genuinamente preocupado consigo e com o outro na comunicação. Ou seja, a comunicação assertiva assenta numa base de compromisso, de negociação e de tomada de consciência dos limites dos outros mas, antes de tudo, dos nossos!

Assim, um dos aspetos mais importantes da assertividade é a capacidade de nos conhecermos profundamente.
Vejamos, agora, algumas das crenças que podem bloquear a nossa competência em sermos assertivos.
4 crenças que bloqueiam a assertividade
1. Temos uma única oportunidade para comunicar de forma assertiva
Já perdi a conta à quantidade de vezes que me dizem: “Carla, adorava que estivesses aqui comigo no momento em que a situação X aconteceu para me ajudar a ter a “resposta certa”! Muitas vezes as pessoas sentem que nem sempre têm as palavras certas no momento em que são confrontadas com uma situação que lhes exija assertividade e que têm de responder prontamente à situação, tendo uma única oportunidade.
A verdade é que, quase sempre, existe a possibilidade de pensarmos sobre o assunto, de nos prepararmos e de voltarmos a fazer ou dizer de forma diferente.
No fundo, importa clarificarmos que podemos, sim, comunicar em qualquer momento, preparando-nos e sendo mais claros.
2. Se dissermos que “não” deixaremos de ser vistos como úteis e prestáveis
É realmente verdade que utilizar a palavra “não” pode ter um efeito prejudicial na nossa ligação com os outros. O “não” ergue um muro que tantas e tantas vezes provoca a perceção de falta de disponibilidade, de empatia, ou mesmo de competência (dependendo da pessoa a quem dizemos que “não”). Claro que sermos vistos como menos úteis, prestáveis ou competentes é a última das coisas que a maioria de nós pretende. Afinal, estamos biologicamente programados para nos integrarmos e sermos vistos como úteis e amigáveis. Ao longo da história da humanidade, o isolamento ou a rejeição por parte do grupo poderia ter diminuído as nossas hipóteses de sobrevivência.
Então será que temos de dizer simplesmente que “sim” para que nos percecionem de forma positiva? Naturalmente que não. Uma das hipóteses é aprendermos a dizer que “não sem dizermos que não” já que há muitas outras formas de estabelecermos limites assertivos na relação com os outros, sem termos de recorrer necessariamente à palavra “não”.
Que tal? “Sim, e isto é o que eu posso fazer com estas condições ou com o tempo que temos disponível. “
É importante desmistificarmos a ideia de que os limites são “paredes de aço” estrategicamente erguidas para manter as pessoas do lado de “fora”. Pelo contrário, os limites são a “porta da frente” que nos dá a oportunidade de mostrar às pessoas como esperamos que se relacionem connosco.
3. Temos de nos justificar quando dizemos que “não”
Na realidade, o simples facto de me justificar dá espaço ao outro para rebater os meus argumentos ponto por ponto. No fundo, acabamos por abrir espaço para que isso aconteça naturalmente. Ao justificar as nossas decisões é como se estivéssemos à procura de validação por parte do outro. Isso acaba por transmitir menos firmeza na forma como comunicamos. Na verdade, utilizar mais palavras “amolece” o discurso, enquanto que utilizar menos palavras torna mais firme a mensagem.
Portamos temos, sim, o direito de não aceitar algo, sem termos necessidade de procurar argumentos. É um dizer “não” sem sentimento de culpa que a grande maioria de nós precisa realmente de treinar.
4. Se aceitarmos algo, depois, não podemos mudar de ideias.
Acredito que não fazemos más escolhas. Tomamos decisões com base na informação que temos disponível a cada momento. A informação muda e o contexto também, por isso a nossa opinião pode, igualmente, mudar. Claro que é permitido renegociar. O simples facto de ter aceite uma tarefa há 3 anos, com menos responsabilidades e num cenário diferente, não implica que tenha de a realizar “para sempre” só porque aceitei inicialmente.
Nestes casos, pode ser útil clarificarmos a razão pela qual mudámos de ideias mas sem precisarmos propriamente de uma justificação e sim de uma explicação para que o outro compreenda os meus motivos e perceba que a minha decisão já está tomada.
Uma das técnicas que podemos utilizar é a técnica do contraste. Algo do género: “Eu não quero que penses que não quero trabalhar contigo mas quando marcámos este projeto eu não fazia ideia de que ia precisar de tanto tempo.” Ou “Eu não quero que penses que não quero fazer este evento contigo mas quando aceitei não tinha a possibilidade de prever que, hoje, teria um problema urgente para resolver com um cliente”.
Ou seja, criamos um contraste entre “O que eu posso fazer e o que eu não posso fazer?”

Em suma, é essencial sermos específicos, propormos alternativas, sermos realistas para estabelecermos parâmetros e gerirmos expectativas. Por exemplo: Se me pedem algo que excede o orçamento previsto, é importante mostrar que o que me estão a pedir está para além do acordado mas que eu posso fazê-lo mediante um valor extra. Isso deve ficar claro para o cliente porque evita surpresas, ressentimentos e conflitos.
No fundo, as pessoas assertivas expressam os seus sentimentos e ideias de forma emocional e socialmente adequada, preocupando‑se em respeitar os seus próprios direitos, objetivos e interesses, mas também os dos seus interlocutores. É isso que lhes permite criar e manter relacionamentos saudáveis, mesmo quando têm de lidar com situações de conflito e de divergência.
A verdade é que a comunicação assertiva é uma ferramenta que facilita o encontro e a conexão comigo e com os outros. Acredito genuinamente que esta é uma aprendizagem que precisa de ser feita ao longo de toda a nossa vida, pela tomada de consciência dos nossos comportamentos e padrões de linguagem mas também das nossas crenças e da forma como nos percecionamos a nós e ao mundo!
Se tens interesse em saber mais sobre a assertividade subscreve o Podcast Mind Speeches para não perderes o episódio 5 que vai ser dedicado ao tema da comunicação assertiva.


